Friday, February 16, 2007

Participação política

André Azevedo da Fonseca

Agora que o espetáculo publicitário das campanhas eleitorais de 2006 ficou para a história, chegou o momento de exercer a cidadania e contribuir no desenvolvimento de nossa sociedade. Ao contrário do que gostam de afirmar os políticos profissionais, a prática da democracia não se restringe ao dia das eleições. Apertar a tecla verde na urna eletrônica não é o principal momento da vida democrática. Resumir a cidadania política ao ato individual do voto é mutilar o cidadão, pois a discussão pública sobre os projetos para transformar a sociedade é um exercício cotidiano que contempla diversas formas de participação. Portanto, se durante a campanha falou-se tanto em “voto consciente”, agora é a hora de incentivar o exercício diário da “participação política consciente”.

O presidente e os governadores já estão em pleno mandato. No dia 1º de fevereiro os deputados foram solenemente empossados. Enquanto cidadãos, devemos anotar o quanto antes o telefone, o endereço e o e-mail de nossos representantes para lembrar-lhes diariamente que eles não são nada mais do que nossos funcionários no governo e no parlamento. Ou seja, o mandato que confiamos provisoriamente a eles não significa um cheque em branco; eles não têm procuração para fazer o que quiser, até porque o cargo não pertence a eles: o mandato é nosso. O poder que eles representam não é uma dádiva pessoal, mas está sustentado unicamente em nossa vontade. Assim, ao contrário do que gostam de propagandear em suas campanhas, nada do que conquistarem para a cidade ou região será um favor, ou uma benesse pessoal, pois o mérito de cada conquista é da massa de eleitores ou, no mínimo, dos grupos de cidadãos que souberam articular suas demandas.

Se os políticos profissionais forem omissos, mentirosos ou trabalharem apenas pelos próprios interesses – ou pelos interesses de seus financiadores e círculos de relações – devemos enxovalhá-los em público até conseguirmos tirá-los de seus postos. Mas se forem responsáveis, competentes e criativos o suficiente para propor bons projetos de lei no sentido de promover o desenvolvimento, a autonomia e reduzir a desigualdade social, conquistarão nosso respeito e apoio. Em um país de tantas urgências, não podemos nos dar ao luxo de permanecer omissos. Em um país onde quadrilhas de parlamentares roubam dinheiro destinado a famílias pobres; onde a falta bons programas sociais produz milhões de jovens desesperados que acabam seduzidos pelo crime; e onde cujas leis favorecem uma concentração de renda que provoca o paradoxo de um país que possui umas das maiores economias do mundo mas conta com milhões de miseráveis; é muito grave assistir passivamente aos políticos profissionais desperdiçarem dinheiro público com proselitismos que servem apenas para sustentar o próprio prestígio pessoal. A negligência é a maior das violências.

Para avaliar a qualidade de nossos representantes é preciso acompanhá-los no decorrer do mandato. Quando estão nas ruas pedindo votos, os candidatos falam qualquer coisa para agradar. Mas agora que foram eleitos, eles terão que fazer escolhas. Essas escolhas podem favorecer os amigos pessoais e os lobbys organizados que já estão confortáveis em seus negócios, ou podem favorecer a distribuição da riqueza, a promoção da educação e a valorização do trabalho. O poder deve ser permanentemente constrangido. Sem pressão política nossos representantes se sentem muito à vontade e tornam-se apenas sujeitos vaidosos, festeiros e comilões. Com o fim da campanha eleitoral, chegou a hora da política. E cabe a nós exigir que os políticos façam seu trabalho. Diariamente.