André Azevedo da Fonseca
Foi lançado no XV Encontro Regional de História, que ocorreu de 10 a 15 de julho de 2006 em São João Del Rey, o livro História de Minas Gerais (Ed. Lê, 2005), de Helena Guimarães Campos e Ricardo de Moura Faria. Segundo os autores, a obra procura suprir a carência de estudos sobre “a totalidade histórica” de Minas. Eles criticam o fato de que a diversidade regional no Estado nunca é contemplada pelas produções históricas e, assim, a obra é anunciada como “indispensável a todos aqueles que desejam conhecer a realidade mineira”.
Pois bem. Consultando o livro, observamos que nas suas 255 páginas há apenas dois parágrafos dedicados ao Triângulo (p.91); ambos equivocados e pitorescos, pois os autores confundem-se em datas e persistem naquela lenda boba que atribui a transferência da região à Minas Gerais a um caso de amor envolvendo Dona Beija. E só. Os pesquisadores sequer consultaram os memorialistas Borges Sampaio ou Hidelbrando Pontes, referências básicas da história da região, que não constam da bibliografia da obra. Para se ter idéia, em todo o livro não existe nenhuma menção ao Desemboque – o berço de dezenas de cidades triangulinas.
A despeito dos vários movimentos de emancipação presentes na política regional, duas frases apenas mencionam o tema: “Apesar de alguns pareceres favoráveis da anexação do Triângulo à São Paulo, em 1816 a região tornou-se mineira” (p.91) e “as intenções manifestadas mais tarde de desagregar do território mineiro as regiões do Triângulo e o Nordeste (...) também não tiveram êxito.” (p.143-4). E pronto. O Triângulo aparece de relance quando se fala das populações mineiras (p.119) e quando é feita uma alusão a um caso pitoresco de um “carro blindado improvisado” na resistência aos paulistas na revolução de 30 (p.155). E só.
Em História de Minas Gerais, Uberaba é citada apenas em um trecho sobre um ovo de titanossauro que foi encontrado em 1946 (p. 14). Peirópolis não é mencionada. Mais à frente há um parágrafo sobre o Zebu em Uberaba (p.169). Uberlândia – a terceira maior cidade do Estado – é citada apenas uma vez em todo o livro, quando os autores dizem que “outras cidades” mineiras também cresceram em 1970 (p.179). Quando menciona a figura de Chico Xavier na religiosidade mineira, não o localiza em Uberaba (p.219). Não há uma menção sequer a Araguari, Sacramento, Frutal, Ituiutaba e demais cidades da região. O livro pincela uma série de escritores mineiros (p.223), mas “se esquece” de autores da estatura de Mário Palmério e Campos de Carvalho. Juntando tudo, a história do Triângulo Mineiro, não preenche meia página de texto de História de Minas Gerais. É como se não existíssemos. É como se não tivéssemos história.
O livro não traz novidades, pois é todo baseado em pesquisa bibliográfica em teses, dissertações e obras já publicadas sobre a história mineira. Contudo, a produção historiográfica sobre o Triângulo é volumosa: somente neste encontro em São João Del Rey estão sendo apresentadas mais de 40 pesquisas. Então, por que esse esquecimento?
Sabemos que, há anos, a resposta a esse enigma esteve na ponta da língua de muitos políticos e intelectuais emancipacionistas da região: – Ora, porque o Triângulo nunca foi mineiro! Porque o Triângulo não é Minas. Mas agora é curioso observar que quem confirma essa impressão são as próprias lacunas de História de Minas Gerais.
2 comments:
Olha estou surpresa com o livro através do seu comentário. Mais valeu..
Oi vc sabe onde consigo comprar pela internet??
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