Wednesday, September 20, 2006

Como conhecer o caráter dos candidatos?

André Azevedo da Fonseca

Períodos eleitorais tornaram-se um dos momentos mais despolitizados da vida em sociedade. O espetáculo publicitário onde os aspirantes a cargos públicos anunciam seus slogans não promove a cidadania, não conscientiza, não educa e não estimula o envolvimento efetivo da comunidade na política. Ao contrário, essas propagandas tendem a confundir os cidadãos; pois não importa o candidato, todas reproduzem as mesmas idéias genéricas sobre os mesmos temas, todas defendem os mesmos compromissos gerais referente aos mesmos programas e, o que é pior, todas personalizam a política, como se as conquistas sociais fossem obras exclusivas da atuação de um só sujeito. Isso é a contramão da democracia moderna, que fundamenta-se na participação cada vez maior da coletividade nas decisões de Estado.

Assim, sejamos claros: não é possível escolher os representantes com base em suas próprias campanhas publicitárias. Candidatos não falam nas propagandas que suas gestões anteriores estão sob suspeita; não explicam suas ligações com escândalos como o mensalão ou a máfia dos sanguessugas; não tornam claros os casos de corrupção que ocorreram sob sua administração; escondem que são indiciados como réus em processos na Justiça Federal, nos tribunais superiores, na Justiça Eleitoral ou nos Tribunais de Contas... a lista é longa.

Algum coisa nesse sentido podemos descobrir conferindo sites como o da ONG Transparência Brasil (http://www.transparencia.org.br), que possui um importante banco de dados sobre dezenas de políticos profissionais, contendo informações tais como a identidade dos doadores de campanha; o desempenho legislativo (incluindo faltas, uso de verbas de gabinete, etc); as menções publicadas na mídia quando aparecem ligados a casos de corrupção, além de outras informações relevantes. Outra boa fonte de pesquisa é o próprio site da Câmara Federal, onde é possível conferir, no endereço http://www2.camara.gov.br/proposicoes quais foram os projetos de lei realmente apresentados pelos deputados, se eles trabalharam mesmo ou se apenas estão fazendo propaganda enganosa em suas campanhas.

No entanto, há uma outra medida que é mais difícil de ser mensurada, mas que pode ser reveladora: sempre vale a pena conversar com empregadas domésticas, jardineiros, motoristas, secretárias ou ex-assessores e ex-funcionários para descobrir o que os políticos profissionais realmente falam no seu dia-a-dia. O que se diz é que, em geral, eles jamais falam em projetos para transformar a sociedade. Nunca conversam sobre formas institucionais de promover justiça social. Não fazem referências sobre mobilização política das comunidades para exigir melhorias sociais. Os únicos assuntos ditos “políticos” giram em torno das táticas partidárias de conquista do poder, da melhor forma de caluniar o adversário, da maneira mais eficaz de forjar uma imagem favorável na imprensa, nas vantagens em se apoiar este ou aquele político profissional, e a conversa fica por aí. É o poder pelo poder. Mais ou menos como descreveu Mário Palmério em Vila dos Confins.

Mas quem são esses sujeitos que de dois em dois anos saem às ruas nos pedindo um cargo público? O que eles realmente querem? Que tipo de prazer eles sentem sendo políticos profissionais? E o que essas pessoas entendem por “política”? O que entendem por “democracia”? E enfim, como conhecer, de verdade, o caráter dessas pessoas que nos pedem votos? Seria muito interessante, mas muito interessante mesmo, travar um debate sobre isso.

1 comment:

Eliane Silveira said...

Pior hein, esse povinho vem agora com uma carinha de Santo pedindo voto. Não sabemos qual deles são os piores, mais precisamos votar. Temos que ver quem roubou menos pra gente colocar lah.Isso é o que penso, ai não decidi os meus votos, estou analisando essa semana quem merece. Abraços